Depoimento de Aloísio Hoepers

Uma pequena história, por que os Hoepers sairam da Alemanha.

       As terras, ja poucas para a agropecuária e a agricultura, deixavam seus filhos, na época sem perspectiva para o futuro, além das colheitas frustradas, principalmente da batata, alimento essencial das famílias que ainda é hoje. Mas, hoje tem a técnica moderna, a Alemanha novamente produz bem, por isso naquela época a emigração se tornou quase uma necessidade.

Quando estive na Alemanha (1996), por exemplo, em Oeding na Wesfalia, terra natal dos nossos antepassados, muito linda com terras planas, eu perguntei por que os nossos avós saíram de uma região tão linda que é hoje uma das melhores terras da Alemanha? A resposta foi a seguinte: na Alemanha o filho mais velho, herda a propriedade (Bauerhoff) e como nosso bisavô Gerhardt Heinrich Hoepers e Ana Catharina Speckking tinha 6 filhos, aonde eles deixariam os outros 5? E assim resolveu emigrar para o Brasil. Que coragem, foi mais difícil do que ir para lua.

Mas grande foi a dor da despedida, era um arrancar de corpo e alma para nunca mais voltar. As mãos estendidas aos familiares e amigos que ficavam, era um eterno adeus banhado de lágrimas, de dor e tristeza, um adeus a pátria, sumindo no horizonte das águas do Atlântico. A viagem foi muito difícil para todos, o enjôo provocado pelo balanço das ondas, a desidratação tomando conta dos mais fracos e das crianças, como nosso avô Fernando que tinha apenas 2 anos. Sem água potável ou chá para beber abatendo mães e filhos, e o triste enterro no fundo do mar, uma verdadeira tragédia.

Somente a fé em Deus e a solidariedade humana podiam salva-las do desespero.
       Chegando em Florianópolis a pergunta era: agora para onde vamos? Colocaram as mochilas e o que tinham num carro de boi, enfrentando um calor infernal e seguiram viagem até Teresópolis, (os antigos chamavam de hasak), muito sofrido, mas, no fundo dos corações, nascia agora a esperança e a fé nos destinos gloriosos da nova pátria.

Abrigados em palhoças ou barracas, que o governo tinha construído para os emigrantes Alemães, homens, mulheres e crianças sem garantia do mais necessário, ficavam nas barracas e os homens saíram com foices e facões fazendo picadas mata virgem adentro a procura de novas terras, até São Bonifácio do Capivari, enfrentando cobras, onças e os índios que se defendiam para não serem dominados pelos brancos, praticavam a vingança, com não raras mortes, mas os índios também sofriam o retruque dos colonos.

Após descobrirem São Bonifácio, começaram a derrubar as matas, (Gerhardt Hoepers era um dos pioneiros), enquanto as derrubadas secavam esperando as queimadas, retornaram as famílias, acampadas no barraco de Teresópolis, depois de queimar as cuivaras, esses heróis levaram as famílias juntas as novas terras, fazendo seus barracos e erguiam seus pensamentos ao céu e pediam a Deus com muita fé, ajuda, proteção, força de vontade de vencer e garantir o futuro para seus filhos e netos. Colocadas no meio das lenhas, paus e tocos, os valentões também precisavam de pão.

Trouxeram um moinho da Alemanha. Como não tinha estradas, só picadas, rolaram as pedras do moinho de Teresópolis até São Bonifácio. Morro acima colocavam uma manivela tocado a mão, e quando descia o morro colocavam uma corda para as pedras não embalarem (segura peão). Chegando em São Bonifácio, construíram o moinho girado por uma roda d`agua. Quando deu o primeiro fubá, fizeram uma festa: agora temos novamente o nosso pão de cada dia. Contam que estas pedras deste moinho ainda existem, hoje, em exposição na Praça de São Bonifácio do Capivari, isto deve ser guardado, pois é uma relíquia.

       Na Segunda década do século XIX, desponta uma nova fase no terrão sul catarinense, com a chegada dos primeiro colonos alemães (1828-1829), fundaram a primeira vila em São Pedro Alcântara. Surge aqui uma perguntas, porque os colonos alemães? Por que os deutsche colonisten deveriam iniciar o cultivo das terras no sul do Brasil, na região de Santa Catarina? O Imperador Dom Pedro I casado com a Imperatriz Dona Maria Leopoldina, austríaca, de fala alemã, convidou colonos alemães para colonizar o sul do Brasil, prometendo-lhes terras para cultivar, pois a população sul catarinense era, até então, rarefeita, com exceção do litoral e Lages.

Isto é o que eu sei, a história da imigração de Gerhardt.
Abraços
Aloisio Hoepers

PS.: Te mais uma história, conta o povo, não sei se é verdade, certo dia tinha dois colonos alemães, serrando toras no mato, os índios ficaram observando isso do mato. Os dois ficavam brigando pela serra, um puxava pra ca e outro puxava pra la, então, na hora do almoço, os serradores foram pra casa, comer, e os índios foram la e quebraram a serra ao meio e colocaram a serra novamente no pau, assim, cada um teria um pedaço para não ficar mais brigando, isso o povo conta, tem cada história.